quarta-feira, 10 de março de 2010

Mulher maravilha ataca novamente

A mulher, antigamente, tinha dois direitos: o direito de não ter direito e de não reclamar do direito que possuía. Sua imagem era associada ao pecado original e remetia ao mal, era a serpente que viria seduzir o homem e destruí-lo. Essa era a conjuntura em que a mulher estava inserida na Idade Média sendo reforçada pela Igreja.

Com o advento da Revolução Industrial, no entanto, a mulher tornou peça fundamental na produção de produtos em larga escala. Ela deixou o papel de figura estática ao lado do homem e passou a ser uma mão-de-obra barata importante para a produção em série. Ela, agora, além de Rainha do lar, com “R” maiúsculo, passa a ser proletariada.

O termo proletariado surgiu na Roma Antiga e era designado às classes mais baixas da sociedade que tinha como objetivo e única utilidade para o Estado gerar proles (filhos) para engrossar as fileiras dos exércitos do império. Ou seja, a mulher só servia para parir. No início da Revolução Industrial essa idéia de procriar continua: a mulher devia gerar filhos para engrossar o número de trabalhadores a frente da sociedade capitalista.

O tempo passou e a mulher, principalmente, nos anos 70, conseguiu a emancipação feminista baseada na liberdade sexual, na igualdade dos sexos, na busca de melhores posições de trabalho, no direito de voto, enfim, o movimento feminista chegou e conquistou o espaço tão almejado pelas mulheres.

Mas diante de tantas conquistas será que tudo são flores na vida da mulher do século XXI? A crítica ao movimento feminista começa com a crítica ao Dia Internacional da Mulher. A mulher deve ser lembrada em apenas um dia ou deve ser lembrada em todo calendário anual? Quando se instituí um dia da mulher evidenciamos já uma lacuna e uma discriminação: a mulher precisa de um dia para gritar para o mundo suas necessidades, para ser ouvida, para reivindicar seus anseios e cobrar os seus direitos. Por que as mulheres só têm o dia 08 de março para falar? ou seja, há um longo caminho de pedras a ser trilhado ainda.

Outras questões como a desvantagem no mercado de trabalho, mesmo quando a mulher detém melhores qualificações; a marginalização da vida política e pública e o baixo poder de tomada de decisões; o fenômeno extensivo e ocasionalmente impune da violência contra as mulheres e a persistência generalizada de estereótipos negativos sobre sua imagem e seu papel continuam a todo vapor.
A mulher conquistou a tão sonhada igualdade dos sexos, mas não perdeu as obrigações instituídas ao longo da história. Ela acumulou o papel de Rainha do lar, com “R” maiúscula, mãe, profissional, esposa e amante.
Se antes ela só precisava ser bonita, agora ela precisa ser bonita, bem-sucedida, inteligente, independente e capaz. Ela não pode mais retroceder e escolher ser apenas dona-de-casa. Se preferir deixar um cargo de executiva de sucesso para apenas ser mãe é considerada doida varrida. Ser dona-de-casa então é atestado de retrocesso e incapacidade. A teoria do super-homem, do filósofo Nietzche, enaltecendo as qualidades e a necessidade do homem ser forte, ganhou a versão feminina: É a super-mulher engajada em problemas sociais, em interesses políticos e em estar no poder.
Mas mesmo com tantas lutas, as mulheres ainda não conseguiram equipararem aos salários dos homens. Elas estão cada vez mais presentes no mercado de trabalho, apesar de nem sempre encontrarem as mesmas condições de acesso, de ascensão e remuneração que os homens, todos estes fatores constituem elementos relevantes da História Contemporânea.
A vida da mulher moderna tem deixado ela triste. Um estudo feito nos Estados Unidos, o General Social Survey, realizado desde 1972, detectou que as mulheres estão mais tristes do que estavam há três décadas – e mais insatisfeitas com suas vidas do que os homens. Coitadas! Elas estão mais estressadas e sem tempo para cuidar de si. Como trabalham muito, tem uma vida sedentária e, por conseqüência, têm maiores riscos de enfartes e doenças coronárias.
A mulher conquistou a liberdade e, paradoxalmente, ficou presa em uma teia de aço. Amarrada ela tem que produzir, evoluir, estudar, trabalhar, lutar por mais conquistas e ir em frente, sempre buscando os direitos iguais. Direitos iguais????

Autora: Flávia Varela