quarta-feira, 23 de junho de 2010

Em época de copa, Calígula com Thiago Lacerda não emplaca

Na peça “Calígula” havia um espelho. E ele refletia não só a imagem e a insanidade do terceiro imperador de Roma Gaius Caesar Germanicus, interpretado pelo ator Thiago Lacerda, mas também um emaranhado de cenas desconexas, sem fluidez.
Com o teatro Carlos Gomes lotado, no último domingo (19), entre um bocejo e outro, o que se viu foi um cenário simples e interpretações no mínimo sem graça. Aliás, o toque de humor, que o autor Gabriel Villela tenta colocar na peça é lastimável, o que salva são algumas críticas contextualizadas aos problemas sociais dos dias atuais como a corrupção, o poder e as desigualdades sociais.
Já o ator Thiago Lacerda faz caras e bocas em frente, primeiramente ao espelho, depois para o público, enquanto os outros atores ficam a maior parte do tempo estáticos no toco, e olha que não é o programa “vai dar namoro”, olhando ele encenar. A peça é quase um monólogo e, por isso mesmo, torna-se cansativa e chata. Em uma das cenas Thiago Lacerda mistura uma pitada de funk com dança do século passado, sendo essa cena o ápice da pieguice. Fora que o galã está com uns quilinhos a mais, anda comendo demais.
O cenário é digamos pobrinho, brinho, brinho, brinho. Tem uns tocos, como já falei, para os atores sentarem e as armas utilizadas para matar uns aos outros são uns pedaços de pau. Ah, fora que os atores morrem e ressuscitam assim em um passe de mágica.A lua que o imperador tanto deseja é o que escapa no cenário que fica em uma tela como imagem de fundo.
No elenco pequeneninho, também no diminutivo, bons atores como Magali Biff, Cláudio Fontana e César Augusto se esforçam para emplacar o texto, mas não há entrosamento. Falta o glamour!
No entanto, a peça traz uma mensagem forte e uma reflexão: como o poder pode transformar uma pessoa? E como a morte de uma pessoa pode trazer à tona a loucura e a crueldade sem limites? Calígula era um bom imperador e bom homem até que sua amante e irmã Drusilla morre e ele entra em crise. Com o poder nas mãos ele manda matar, deserda patrícios, se envolve em orgias e torna-se um tirano.
Como já diz o ditado: quer conhecer um homem dê-lhe poder. Calígula tinha o poder, os atores, todos, tinham talento, mas, infelizmente desperdiçado. Por falar em desperdício quem foi ao teatro...
No palco havia um espelho...